segunda-feira, 29 de março de 2010

Ensinar X Não ensinar gramática: ainda cabe essa questão (Carlos Alberto Faraco)


As raízes históricas do ensino de gramática no Brasil têm suas bases na pedagogia jesuítica, marcada pela utilização do latim de forma estanque e cristalizada. Como todo fenômeno linguístico não pode manter-se alheio ao caráter excludente do período colonial, época em que o ensino foi disseminado a partir do colégio Pedro II.


Com a independência política o Brasil se embrenha na busca de um português padrão a ser adotado na escrita já que no país havia uma diversidade linguística. O maior problema é que ao buscar o padrão, mais uma vez ele se torna projeto de exclusão, já que tenta se aproximar da língua praticada na Europa que não corresponde ao uso real que se faz da língua.

Atualmente, este artificialismo tem afastado a escola do uso real que se e da língua falada. Não é raro percebermos a atuação do professor que sob esse enfoque acredita que ensinar gramática é fazer parte o arrolamento de regras sob a justificativa de atender a demandas previstas em vestibular ou em concursos públicos, como se a escola, alijada de seu papel fosse refém de um treinamento linguístico que não contribui para a compreensão e reflexão da língua e, por consequência, não prepara o educando para a cidadania.

Visto dessa forma, pode-se ter a impressão de que o ensino de gramática seja pernicioso ao pleno desenvolvimento da cidadania . No entanto, não se pode esquecer que é função da escolar aproximar o educando da variante padrão e colocar o ensino da gramática num status sim ou não é assumir um falso dualismo. Acredito que a expressão que responderia a esta questão é DEPENDE DE COMO E PARA QUÊ. Isto significa que à escola caberá ampliar a visão do educando para uma gramática mais flexível num nível de possibilidades de utilização e não de rol de modos de atuação rígidos e anacrônicos.

O ensino de gramática deve favorecer a ampliação do domínio da língua oral e escrita. Visto dessa forma, não cabe a memorização de nomenclaturas e regras e sim a reflexão que se faz a partir da língua em uso, observando e descrevendo regularidades e efeitos de sentido produzidos nesta utilização.



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